Hal Hartley não fazia um filme deste Ned Rifle, de 2014, e este Onde Aterrar é uma fina, espirituosa e económica comédia de equívocos nova-iorquina, em que Bill Sage interpreta Joe Fulton, um famoso realizador de comédias românticas que está semi-reformado e decide ir trabalhar no cemitério da igreja próxima de sua casa, para dar ocupação às mãos ao ar livre, bem como fazer o testamento. A namorada, os familiares e os amigos julgam então que ele vai morrer, e a confusão instala-se. Em apenas 75 minutos, com uma câmara digital e meios exíguos (parte da fita foi rodada na sua casa em Nova Iorque), sentido de humor e veia irónica, e recorrendo a actores velhos conhecidos da sua filmografia, Hartley, uma das lendas do cinema independente dos EUA, diz mais, e de forma despretensiosa, sobre o sentido da existência, a morte, a religião, as perspectivas de futuro da humanidade e do cinema (irá tudo parar à Netflix?) e as peculiaridades das relações familiares e sentimentais, do que outros cineastas em duas horas ou mais (até ficamos a saber a melhor e mais rápida forma de tirar sacos de plástico presos nos ramos das árvores). Não se esquecendo de gozar com uma certa elite bem-pensante urbana americana, com os autores de livros “sérios” e presunçosos sobre figuras do cinema como ele, e com a omnipresença das séries de televisão para as plataformas de streaming.

Crítica
Onde Aterrar
A Time Out diz
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